Monólogo. Perto do fluxo da consciência celebrizado por Joyce no famoso monólogo de Molly. O ambiente não podia ser mais tenso. Final dos Campeões Europeus. Antes do prolongamento. Os trinta minutos que se adivinham podem mudar a vida de cada um dos participantes. O treinador, filósofo e borderline, serve-se da sua vida privada para fazer passar a mensagem. Ao mesmo tempo que vai dissecando a sua relação amorosa com o auxílio das leis do futebol e da estratégia que vai propondo aos atletas. Um pretexto para comparar dois modos de vida, distintos mas com interferências recíprocas: um votado aos impulsos e às paixões, outro determinado pela razão e deliberação. Do relvado para a alcova, e vice-versa, como se de um mesmo raciocínio se tratasse. Um vai-vem entre uma vida cujo ritmo não controlamos, o ritmo dos enunciados-parasita, e outra em que somos nós os timoneiros, cujo sucesso dependerá sempre da nossa fome de triunfo. Como se estivesssemos condenados a errar, diria Becket, mas a errar cada vez melhor. Logo que joguemos limpo.
Francisco Oliveira
JOGO LIMPO
co-produção Américo Silva e Teatro da Terra
a partir da obra de François Begaudeau publicado por Verticales© Gallimard
um trabalho de Américo Silva
tradução e adaptação Francisco Oliveira
desenho de luz Pedro Domingos
operação de luz Paulo Cunha