TEATRO da TERRA
criação artística para todos
A PURGA DO BEBÉ
de GEORGES FEYDEAU
encenação MARIA JOÃO LUÍS
com
FILIPE GOMES, JOANA CAMPELO, MÁRCIA CARDOSO, PAULO DUARTE RIBEIRO
RODRIGO SARAIVA, SÍLVIA FIGUEIREDO, TADEU FAUSTINO
tradução JOSÉ MARTINS
cenografia ANA TERESA CASTELO
figurinos CLÁUDIA RIBEIRO
desenho de luz e fotografia PEDRO DOMINGOS
assistência de encenação JOANA CAMPELO
ilustração do cartaz JOANA VILLAVERDE
assistência de produção FILIPE GOMES, CARINA R. COSTA
direcção de produção PEDRO DOMINGOS
produção TEATRO DA TERRA 2025 M/12
A PURGA DO BEBÉ é uma farsa curta, mas brilhantemente elaborada, que mostra o talento de Feydeau a transformar a vida quotidiana em comédia de mal-entendidos e situações absurdas.
A peça gira em torno de um casal, Follavoine e Julie, que se prepara para uma importante reunião de negócios. Follavoine tenta garantir um contrato para fornecer penicos ao exército francês e convidou para a sua casa um funcionário do governo para discutir o acordo. No entanto, a sua vida doméstica está um caos porque o seu filho bebé, está obstipado e recusa-se a tomar o seu laxante.
Enquanto Follavoine tenta freneticamente manter a ordem e impressionar o seu convidado, Julie está igualmente ansiosa por fazer o bebé tomar o seu remédio. A situação transforma-se numa série de mal-entendidos hilariantes, e discussões entre o casal. A peça culmina numa resolução caótica e barulhenta, típica no estilo das farsas de Feydeau.
As situações cómicas são exacerbadas por diálogos rápidos e personagens caricatas, revelando as neuroses e os dilemas da sociedade, explorando temas como o casamento e a desordem emocional, tudo com um tom leve e divertido.
















PARA ONDE FOI O MEU CORPO?
de ANA LÁZARO
encenação MARIA JOÃO LUÍS
com
BRUNO SOARES NOGUEIRA, PEDRO MOLDÃO
cenografia DANIELA CARDANTE
música TÓ TRIPS
desenho de luz PEDRO DOMINGOS
assistência de encenação SÍLVIA FIGUEIREDO
assistência de produção FILIPE GOMES, CARINA R. COSTA
direcção de produção PEDRO DOMINGOS
produção TEATRO DA TERRA 2025 M/12
“Onde sentimos o medo? Nas mãos? Na nuca? Nos pelos que sobem na pele dos braços. E a tristeza? No peito? Na barriga? Nos olhos quando choramos? E o amor? Ah eu nunca senti amor. Mentira! Senti. Mas foi nos joelhos. Tremeram tanto que fingi que tinha de me joelhar para atar os sapatos. Porque tive medo de cair… Mas ultimamente sinto só uma confusão. E os meus joelhos, as minhas mãos e a minha barriga estão todos baralhados, como se fossem uma bola de neve a crescer e a cair em direção a um desfiladeiro…”
Boyle é um Rapaz da Geração Z. Depara-se com um acontecimento inesperado. Perdeu o corpo. Céticos? Pois se podemos ter pele de galinha, pés dormentes, pressão na cabeça… um buraco na barriga… um vazio no peito… Quem diz que esse vazio não pode crescer até fazer o corpo desaparecer completamente?
O mais estranho é que Boyle tem um corpo, mas não é real, é um perfil, um avatar – um outro Boyle – o Boyle virtual que faz tudo o que ele não é capaz de fazer. Ou pelo menos assim parece. É o Boyle_Two_Thousand: a sua identidade virtual, o nome que usa nas redes, para jogar com outros players em rede, para falar com pessoas desconhecidas. O Boyle_Two-Thousand é tudo o que o Boyle queria ser, mas o problema é que só existe quando liga o telefone. Dentro do círculo do Instagram, no ecrã do Tiktok. Sim… O Boyle não é bem o Boyle, é assim uma espécie de Boyle inventado. E agora até ele corre o risco de desaparecer. É que se o Boyle real não existir (na verdade se o Bruno não existir), nem o Boyle _Two_Thousand sobrevive.
Tudo começou quando apanhou uma espécie de piolhos, chamado algoritmos. Os algoritmos pareciam estar dentro da cabeça dele, debaixo do coro cabeludo, às vezes até o despertavam no meio do sono. A quererem entrar pelos sonhos adentro. Foi nesse instante que Boyle percebeu que sem querer os pés, os joelhos, a clavícula (!) tinham começado a desparecer. Pior que uma pressão como a de milhares de toneladas se abatia sobre a sua cabeça, mesmo naquele pontinho onde nascem os pensamentos.
Recuperar o corpo não é tarefa fácil. Mas Boyle lembra-se do Pai lhe contar a história dos Escafandristas, que eram capazes de resistir à pressão das profundezas marítimas onde a água e a pressão atmosfera têm o peso de muitas toneladas!
Em cena as identidades do Boyle Real e do Boyle virtal, cruzam-se e coexistem. e episódios da Escola, Amigos, e Solidão ganham Voz a dois corpos.

QUANDO NÓS OS MORTOS DESPERTARMOS
de HENRIK IBSEN
encenação ANTÓNIO SIMÃO
com
tradução
cenografia e figurinos
música
desenho de luz
assistência de encenação
assistência de produção
direcção de produção
produção TEATRO DA TERRA 2025 M/12
Quando nós os mortos despertarmos é a última peça escrita por Henrik Johan Ibsen, em 1899, num ambiente pessimista fin-de-siécle, anti-vitoriano, ressalvando o papel da arte e da mulher. Em tom de despedida a peça evoca ainda assim alguns temas recorrentes nas suas peças. O papel da mulher numa sociedade onde a prerrogativa é masculina. A história de uma mulher cuja vida e sonhos são destruidas por um artista que expôs a sua nudez como objecto artístico, relativizando a sua própria existência enquanto ser social, humano e complexo.
Ibsen cria uma espécie de alter-ego, o escultor Arnold Rubek, que depois de muitos anos no exílio regressa à Noruega para passar o Verão numa estância balnear com a sua esposa Maja, uma mulher que não o satisfaz por não ter sensibilidade artística. Apesar da fama e do sucesso alcançado, Rubek sente uma enorme frustração, porque conclui que, ao abrir mão do amor e da vida, acabou traindo a sua arte. Imbuído de sentimento trágico por ter sacrificado tudo em nome de um ideal, reencontra Irene, a mulher que lhe serviu de modelo e inspiração para a criação de uma escultura que batizou de O Dia da Ressurreição, considerada uma obra prima pelos críticos. Irene afasta-se de Rubek por não se sentir correspondida nos seus afetos surgidos quando desnudou o seu o corpo e alma para o escultor. Coma ausência de Irene, Rubek entra em desespero acreditando ter perdido o seu dom - a criatividade artística. Quando Rubek reencontra Irene na estância balnear, ela acusa-o de lhe ter roubado a alma e sugado a energia vital.
Ibsen dominou o início do movimentos artísticos no início do séc. XX. A representação de diferentes formas de subjetivação torna-se uma das principais fronteiras expressivas e, nesse sentido, Ibsen promove uma reflexão sobre a nova subjetividade. Com a intenção de revelar, no espaço da escrita dramática, a paisagem interna das personagens que se deparam com anseios e desejos que, muitas vezes, elas mesmas não compreendem, Ibsen envolveu-se com todos os movimentos artísticos de seu tempo, desde o simbolismo até o expressionismo e surrealismo, cujos representantes investigavam as profundezas da psique a partir de ideias difundidas por Kierkegaard, Nietzsche e, sobretudo, Freud.
As personagens em Ibsen, a Burguesia na sua plenitude, os grandes arquitectos, os grandes engenheiros, os grandes artistas (como neste caso) escondem segredos. Por baixo dos soalhos dos solares, por baixo do gelo dos lagos do norte, há pecados – crimes, roubos, apropriação do trabalho dos outros, adultério, traições... e, com o degelo os fantasmas do passado voltam.
Todo o ódio, toda a amargura, todo o arrependimento vem de trás, do passado, de sentimentos amontoados.
A mulher, no centro da trama de Quando nós os Mortos Despertarmos, como em Hedda Gabler, mas aqui já vencida, já vítima mas ainda movimentando a acção resultante de actos do passado. Outrora musa, outrora representando a pureza do gesto primeiro, de uma arte ainda não conspurcada, uma arte ainda não sacrificada aos gostos e aspirações da sociedade. Em Quando Nós os Mortos Despertarmos, a mulher/modelo é sacrificada pela arte do escultor e a sua alma de mulher é desperdiçada para gratificar a imaginação e estimular a alma do artista.
